terça-feira, 15 de maio de 2012

Testardi Syrah 2010 – A quebra definitiva do paradigma dos vinhos do Sertão.

Quando em 2010 iniciei a pesquisa para escrever o livro Ensolarado Sertão, Magníficos Vinhos, simultaneamente uma pequena fração de um determinado vinhedo da Fazenda Ouro Verde, leia-se Vinhos Miolo e Vinhos Lovara, em Casa Nova na Bahia, estava sendo criteriosamente selecionado e posteriormente podado.

As páginas do livro foram ganhando corpo, e não diferente estas cepas que então exalavam seiva, agora brotavam e floriam. Os extratos da obra se multiplicavam e, naquelas esplendorosas espaldeiras, destas referidas rencas de videiras com baixíssimo rendimento, aproximadamente um quilograma por planta, pendiam belos cachos de uvas Syrah.

Ainda era julho de 2010 quando estes néctares foram colhidos. Uma pequena produção que mudará substancialmente o olhar e o pensar sobre os já afamados vinhos do Vale do São Francisco.

Capitaneado pelo enólogo Flavio Durante, 40 anos, há meia década na Vinícola Ouro Verde, deu-se inicio ao processo de vinificação daquela histórica vindima. Durante adotou os procedimentos dos grandes vinhos do mundo, fermentando e amadurecendo aquele rico mosto por um ano em barricas bordalesas (225L) novas de carvalho francês.

Batizaram-no de Testardi, sinônimo em italiano de teimosia, insistência e persistência. De fato! Era preciso deixar de lado que os vinhos do Vale do São Francisco são possíveis de elaboração apenas em Espumantes e vinhos Tranqüilos jovens frutados para ganhar respeitabilidade e admiração com um grande vinho, merecedor de guarda por mais de uma década.

O livro Ensolarado Sertão, Magníficos Vinhos se avolumou e tomou sua forma definitiva, e conjuntamente, lá na vinícola Ouro Verde, o Testardi nasceu. Enquanto a obra recebia seu lançamento, novembro de 2011, na Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, o Testardi, finalmente começara a receber seu engarrafamento, também, no final daquele ano, as margens do Lago de Sobradinho em meio a Caatinga, bioma único do planeta.

Era preciso mostrar ao mundo os potenciais do Vale. Com sua primeira edição praticamente esgotada regionalmente, alguns poucos exemplares do livro foram reservados para serem autografados na ExpoVinis, edição 2012, a maior feira de vinhos das Américas, Pavilhão Azul do Expo Center Norte, São Paulo-SP. Mesmo palco e platéia escolhido para o lançamento do merecido e inovativo vinho Testardi.

Uma das mais desejadas premiações do mundo do vinho ocorre, exatamente, dentro deste evento. É o TOP TEN. Consiste em agrupar os vinhos relacionados, e aqueles expostos, em dez diferentes categorias, e entre elas, o Melhor Vinho Tinto Nacional.

É formado um seletivo grupo de avaliação que degusta os vinhos às cegas. Ou seja, os degustadores não conhecem o rótulo ou a procedência, apenas um número na base da taça identifica a amostra.

O júri internacional deste ano, como sempre, foi da melhor estirpe. Foi composto por Luis Lopes, fundador e diretor da Revista Vinho (Portugal); Andrés Rosberg, presidente da Associação Argentina de Sommeliers; Jorge Carrara, colunista da revista Prazeres da Mesa e do site Basilico; José Maria Santana, colunista da revista Gosto; Gustavo Andrade de Paulo, membro da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-SP); José Luiz Alvim Borges, Presidente da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-SP); Ricardo Farias membro da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-RJ); Mauro Zanus, Embrapa Uva e Vinho - RS; Marcio Oliveira, membro da Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho (SBAV-MG), José Luiz Giorgi Pagliari, membro da Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho (SBAV-SP) e Consultor e Professor do Senac-São Paulo-SP; Roberto Gerosa, colunista do portal iG; Celito Guerra, Embrapa Uva e Vinho - RS.

Grandes e pequenas vinícolas, todas concorriam nas mesmas condições de igualdade. Porem, surpreendentemente, eis que o resultado foi brilhante e dignificante para aos vinhos de safras excepcionais, ou seja, vinhos de uma região única, contemplada anualmente com 3.000 horas de luz solar, diferencial nada igual ou similar no mundo. O campeão da ExpoVinis, edição 2012, na categoria Melhor Vinho Tinto Nacional, ostentava no rótulo Testardi Syrah 2010 – Vinícola Ouro Verde -Vale do São Francisco.

O feito ratifica ambas as obras. O Sertão nordestino, entre cáctus e facheiros, modestamente pede licença, entra pela porta da frente e se apresenta, definitivamente, para o mundo.


*José Figueiredo, sommelier autor e apresentador do vídeo documentário ‘Vinhos Brasileiros de Qualidade’ (ilimitada) e do livro Ensolarado Sertão, Magníficos Vinhos (Franciscana).

Fonte Vinho Club

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