Cansei da idiossincrasia de alguns políticos sertanejos
Por Marcelo Cancão
Pasmem! O deputado Gonzaga Patriota
(PSB-PE) está indignado com a realização de “uma festa tão acintosa”
como será o nosso São João do Vale, que renderá homenagem ao centenário
do Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Diz ele que por conta da seca que tem nos
assolado. Porém, vale ressaltar que a seca não é um fato inédito e
isolado, mas corriqueiro. E não adianta colocarmos a culpa da estiagem
em Deus. Os culpados são outros. Vestem-se bem e, vez ou outra, estão
enrolados em encrencas que não vem ao caso.
Fazendo uma análise rápida do que foi
divulgado em nota pelo deputado milionário, alguns trechos aguçaram para
uma reflexão. Senão vejamos.
“O governo federal anunciou
recentemente uma série de medidas para reduzir as consequências da seca
que atinge os estados do Nordeste e o Norte de Minas Gerais”.
Isso prova por A + B que o
governo federal não vem trabalhando formas preventivas de combate a
seca. Pior. Não se viabiliza recursos para acabar de vez com a maldita
indústria da seca. Isso é um problema histórico e todos os governantes
que passaram pelo poder tem a sua impressão digital de culpa.
Fala-se que tais medidas de remediação
dos problemas custarão aos cofres públicos algo em torno de R$ 2,7
bilhões. Acredito, no auge da minha pobre ignorância, que com essa gama
de recursos poderiam ser construídas obras estruturantes que, de fato,
surtissem efeito no combate a esses períodos de estiagem. Lembro-me de
uma audiência pública na Câmara dos Deputados – salvo engano em 2005 –,
onde o Dr. Jerson Kelman, ex-presidente da Agência Nacional de Águas –
ANA, disse que “não basta encher os grandes açudes do Nordeste para
resolver o problema, mas que se invista primeiramente na construção de
adutoras, permitindo que se transporte água dos açudes para os
municípios necessitados”. Dispomos no Nordeste de cerca de 400 açudes de
grande porte, totalizando aproximadamente 36 bilhões de m³ de estocagem
de água. O problema é que muitos deles estão ociosos pela falta de
obras complementares.
Aí eu pergunto ao deputado Patriota, o
por quê de ele não se indignar com o Governo Federal? Por que entregou o
cargo de líder da bancada nordestina? Por que a presidenta Dilma esteve
relutante a receber o “líder”? Por que o projeto Pontal está parado há
tantos anos? Até quando o sertanejo vai ter que esperar pelos “favores”
de um carro pipa?
Poderia fazer centenas de perguntas,
mas é fato que não obterei respostas convincentes. Da mesma forma que o
deputado não me convenceu na sua defesa ao projeto de Transposição,
quando debatemos ao vivo em sua rádio e eu fiz o alerta sobre a
megalomania que era o projeto. O resultado já estamos vendo. O que
custaria R$ 4,5 bilhões, passou para R$ 6,6, e recentemente as
empreiteiras encheram mais uma vez os seus bolsos com aditivos de
contrato.
Eu não poderia me permitir a preguiça
de rechaçar esse tipo de discurso barato que sempre ouvimos em anos
eleitorais. Petrolina sempre teve gestores com visão de futuro como
Diniz Cavalcanti, Simão Durando e obviamente a sequência de Coelhos que
se alternaram no poder. Todos com a sua parcela de contribuição. Mais
recentemente a missão foi dada ao prefeito Julio Lossio, que tem
conduzido a nossa cidade com maestria, responsabilidade e zelo com o
dinheiro público. Mesmo com tanta gente fazendo o jogo do “quanto pior,
melhor”. Essa gente que sobrevive de fazer a política mesquinha e
deselegante.
Petrolina é a cidade mais pujante que
conheço e só precisa de homens e mulheres que com ela colaborem. Aqueles
que quiserem atrapalhar o nosso desenvolvimento com atitudes que não
cabem em nossa cidade, façam o favor de procurarem novos rumos ou quiçá
voltem as suas origens. Aqui é terra de quem pensa grande e no futuro.
Não adianta querer enganar o nosso povo, pois o nosso povo não é besta.
Pouca gente entendeu essa união da água com o óleo. A união de quem não
queria acordo nem se fosse para ir pro céu.
Sugiro a essa gente que leia a obra
“Política – Para não ser um idiota”, dos filósofos Mario Sérgio Cortella
e Renato Janine Ribeiro. Pra quem não sabe, em grego, idiota é aquele
que se concentra apenas na vida pessoal. Cansei da idiossincrasia. Eu
penso a sociedade e não falo esse idioleto. Ainda bem que Petrolina não é
uma Capitania Hereditária.
E no dia do silêncio, perdeu-se uma grande oportunidade de ficar calado.
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