segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A fila ainda anda

O ministro do Turismo foi o quinto a perder o emprego no governo Dilma. Há pelo menos mais dois candidatos na mira do Palácio do Planalto
 
A queda do ministro Pedro Novais, do Turismo, estava anunciada havia nove meses, embora só tenha sido formalizada na semana passada. Sabia-se, antes mesmo de ele assumir o cargo, que suas credenciais no ramo do entretenimento se resumiam à organização de uma festança num motel do Maranhão à custa dos contribuintes. Apesar do pecadílho, Novais foi confirmado pelo PMDB, o seu partido, como o homem mais preparado naquele momento para a função. Como ministro, fez jus ao currículo: privilegiou cidades de seu estado com recursos federais, viu a polícia prender seus principais subordinados, pagou o salário de sua empregada doméstica com a verba parlamentar e, por último, pendurou na folha da Câmara a conta do motorista particular de sua mulher. Pecadilhos demais até para os elásticos filtros morais do PMDB. Sem o apoio político do partido, Novais, que não queria sair, pediu aos assessores que lhe arrumassem uma máquina de escrever e redigiu sua carta de demissão. Foi o quinto ministro a deixar o governo, o quarto defenestrado por denúncias de corrupção e irregularidades - uma sequência evidentemente ruim para qualquer administração, mas que também embute bons presságios.
 
Ao exigir a demissão de Pedro Novais, a presidente Dilma Rousseff" deu mais uma demonstração de que, no mínimo, lhe incomoda manter em seus quadros acusados, suspeitos, investigados e afins. É verdade que o governo poderia evitar metade dos constrangimentos dos últimos meses se tivesse um pouco mais de rigor na hora de nomear os ministros, cobrando dos partidos aliados nomes que atendessem a requisitos elementares exigidos para qualquer cargo público: retidão ética e preparo. Sem isso, a tendência é que os casos de corrupção continuem se repetindo, produzindo mais baixas. Há pelo menos mais dois auxiliares diretos de Dilma na fila da degola: os ministros Mário Negromonte (Cidades) e Carlos Lupi (Trabalho). A ideia da presidente é tentar preservá-los nos respectivos cargos até o início do ano que vem, quando deve ocorrer uma ampla reforma ministerial. Mas é possível que o abismo se apresente a ambos antes disso. Negromonte já foi denunciado pelos próprios correligionários por montar um bunker em seu gabinete onde se ofereceu aos deputados do PP dinheiro em troca de apoio - uma espécie de mensalinho. Desde então, o ministro virou uma espécie de Pedro Novais da Esplanada. Ele já foi acusado de privilegiar suas bases eleitorais na Bahia, sua mulher, que é prefeita, teria contrato com uma empresa de fachada com dinheiro federal e, por último, surgiu agora uma denúncia de nepotismo. O ministro tem uma irmã e uma sobrinha ocupando cargos de confiança na estrutura do Ministério das Cidades. Teoricamente. nepotismo. Ocorre que os parentes - nenhum deles concursado - já estavam lá antes da chegada de Negromonte ao governo.

Ao assumir, o ministro consultou a Comissão de Ética Pública e a consultoria jurídica do ministério sobre a situação e obteve dos dois órgãos o aval para a permanência dos parentes no emprego. Existe uma lei que proíbe a nomeação de parentes, mas ela nada fala sobre mantê-los no cargo. A disputa interna que vai aos poucos empurrando Negromonte para o cadafalso se repete também no Ministério do Trabalho. Desde o fim do ano passado, o ministro Carlos Lupi vem medindo forças com parlamentares de seu partido. o PDT. Há cerca de dois meses. os deputados Brizola Neto e Paulinho da Força procuraram o chefe de gabinete da presidente Dilma. Giles Azevedo, e elencaram suspeitas de irregularidades no ministério. Dias depois, a Casa Civil determinou que Lupi demitisse seu braço direito e chefe de gabinete, Marcelo Panella. Oficialmente, o assessor saiu "por questões pessoais", mas os ânimos continuam acirrados. Não bastasse a briga interna na legenda, Lupi ainda vive sob tiroteio intenso da CUT, que é ligada ao PT e sistematicamente acusa o ministro de beneficiar a Força Sindical,.comandada por Paulinho.
 
Com a reforma ministerial anunciada para 2012, a presidente terá a oportunidade de montar sua própria equipe. Muitos dos personagens envolvidos nos escândalos foram herdados ou indicados por compromissos assumidos ainda durame a campanha presidencial. Isso ficou mais uma vez demonstrado na semana passada, com a nomeação do desconhecido deputado Gastão Vieira para o lugar de Pedro Novais no Turismo.
 
Ele saiu do mesmo ninho do antecessor, o PMDB do Maranhão, e entende tanto de turismo quanto o antecessor - ou seja, nada. Ambos foram apadrinhados pelo mesmo figurão, o senador JOSÉ SARNEY. Dos outros dois candidatos apresentados pelo PMDB, um já esteve envolvido em desvio de dinheiro público, o outro foi acusado de integrar um grupo de extermínio. Como se vê, Gastão não era a melhor opção de Dilma. Era a única.

Fonte: Revista Veja

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