domingo, 15 de abril de 2012

Por que é complicado contratar deficientes?

Mais de 20 anos já decorreram desde a sanção da Lei Federal 8.213/91 que determina a contratação de pessoas portadoras de deficiência. A chamada Lei de Cotas, como ficou conhecida, estabelece que organizações a partir de 100 profissionais já reservem 2% do seu quadro para pessoas que tenham algum tipo de deficiência. Passadas mais de duas décadas, ainda é possível encontrar muitas organizações com dificuldades para cumprir a lei.

Para se ter uma ideia geral do cenário nacional, segundo o Censo 2010 realizado pelo IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Brasil possui cerca de 17 milhões de portadores de algum tipo de deficiência severa e o ingresso no mercado de trabalho continua sendo um grande problema. O Estado de São Paulo tornou-se o principal empregador de deficientes brasileiros, registrando 44% de adesão das organizações. Já no Rio de Janeiro, esse percentual não chega a 20%. 


Mas, porque existe tanta dificuldade para se contratar deficientes? Para responder essa e outras questões, o RH.com.br entrevistou David Gurevitz, diretor da Delphi, empresa especializada em Medicina e Segurança do Trabalho, e que hoje está à frente de um programa que disponibiliza o preenchimento de vagas nas empresas. "Em apenas um ano, atendemos mais de 84 empresas. Esse trabalho resultou na contratação de 393 profissionais com deficiência", comemora. Ele afirma que o Ministério do Trabalho e Emprego aumentou a fiscalização para que a Lei de Cotas seja cumprida, mas ainda existe um longo caminho a ser percorrido e os deficientes tenham espaço assegurado no mercado de trabalho. Confira a entrevista na íntegra!

RH.com.br - Já se passaram mais de 20 anos desde a sanção da Lei Federal 8.213/91, que determina a contratação de profissionais deficientes para empresas com mais de 100 funcionários. Apesar do tempo, ainda é clara a dificuldade das organizações em cumprirem as determinações da lei. Que fatores contribuem para essa realidade?
David Gurevitz - O IBGE realizou uma pesquisa que comprova que 6% dos deficientes brasileiros, dos diversos tipos físico, visual, auditivo e mental, podem atuar em alguma atividade laboral. Contudo, observo que as empresas têm dificuldades de contratar profissionais com algum tipo de deficiência, simplesmente porque não existe um órgão que forneça um cadastro com dados essências que possam facilitem a inclusão dessas pessoas no mercado de trabalho. Além disso, existe outro fator: as próprias organizações sentem dificuldade em especificar que funções poderiam ser exercidas por algum tipo de portador de deficiência.

RH - Essa realidade tende a ser revertida em médio ou longo prazo?
David Gurevitz - Tenho a esperança que sim, pois a cobrança de parte da fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego está aumentando. Outro indicador que nos anima é o aumento do número de empresas que também começam a entender melhor os diversos tipos de deficiências. Isso faz com que os profissionais, mesmo que possuam algum tipo de deficiência, possam ser contratados para funções mais adequadas às suas realidades. Consequentemente, isso geraria um melhor desempenho do profissional e haveria um ganho para os dois lados: funcionário e organização.

RH -
É comum encontrar no mercado empresas que confundem a contratação de deficientes com assistencialismo? Por que isso ocorre?
David Gurevitz - Infelizmente, isso ocorre mais do que se imagina. A impressão que o mercado passa é a de que, ainda, muitas empresas consideram que governo impõe mais um custo a elas. A Lei de Cotas ainda não é muito bem aceita por alguns e isso complica a situação. Na verdade, a contratação desses profissionais traz uma melhor imagem para a empresa junto à sociedade, além da redução de riscos de multas pelo descumprimento da lei. E ainda existem relatos, fatos concretos de que quando uma organização dá a oportunidade a algum deficiente, geralmente a entrega desse profissional é muito significativa e chaga a surpreender na maioria dos casos.

RH - Uma vez que a empresa estabelece a meta de cumprir a determinação da Lei de Cotas, qual o primeiro passo para ter êxito nesse programa?
David Gurevitz - O primeiro passo é definir quais as funções que podem ser exercidas por qual tipo de deficientes. Por exemplo, um programador de computação pode perfeitamente ser um paraplégico ou um portador de deficiência auditiva. Fora isso, é essencial verificar na própria empresa, através de check list e avaliação médica especializada, a existência de deficientes. Muitas vezes é possível preencher as cotas com funcionários da própria empresa, já qualificados e que estão apenas esperando uma oportunidade para mudar de função e dar um novo rumo à sua carreira.

RH - Quais os principais cuidados que uma empresa deve adotar, ao investir na contratação de pessoas com deficiência?
David Gurevitz - Além da correta seleção que deve ser realizada através da área de RH em conjunto com o setor requisitante, é indispensável preparar os postos de trabalho para que os profissionais exerçam suas atividades e deem o melhor do seu potencial. Deve-se também observar se a organização oferece a esses profissionais acessos a banheiros e às dependências da empresa, para que possam transitar com tranquilidade.

RH - No Brasil, os centros profissionalizantes estão atentos para esse público de trabalhadores?
David Gurevitz - Sim, existem centros que oferecem cursos para profissionalizar e que facilitam a acessibilidade para portadores de deficiência, inclusive para os que têm problemas com a coordenação motora. Algumas entidades não governamentais também abrem espaço para que os deficientes aprendam alguma atividade e tenha mais chances de ingressar no mercado de trabalho.

RH - Apesar de tantas dificuldades que se apresentam no mercado, é possível encontrar empresas que sirvam de modelos no que se refere a programas direcionados à contratação de profissionais com deficiência?
David Gurevitz - Sim, é possível encontrarmos bons exemplos. Temos, por exemplo, no Rio de Janeiro, o Banco Pactual e os colégios Santo Agostinho e Teresiano. Em apenas um ano, a equipe da Delphi, conseguiu atender a 84 empresas. O resultado foi muito animador, pois esse trabalho resultou na contratação de 393 profissionais com deficiência.

RH - Para as organizações que pretendem investir na contratação de deficientes, que orientações o senhor daria?
David Gurevitz - Em primeiro lugar, façam uma avaliação no seu corpo de trabalho para verificar se, de fato, já não existem pessoas com deficiência. Segundo: acreditem no potencial dessas pessoas, porque elas têm valor e podem agregar muito ao dia a dia da empresa. Aproveitando a oportunidade, queria deixar um recado para os deficientes que procuram uma oportunidade no mercado: revejam seus currículos, enfatizem seus pontos fortes e durante as entrevistas de seleção, confiem em si antes de tudo. Porque se vocês não confiarem que são capazes, dificilmente conquistarão a confiança dos outros, principalmente em um mercado tão competitivo. Atualizem-se, sempre que possível, busquem cursos e tenham sempre em mente que muitos deficientes estão empregados porque não desistiram diante dos obstáculos da vida.

Fonte Portal RH

Nenhum comentário: