Omissão
lamentável
Tenho que lamentar com
vocês todos o ocorrido com o ônibus que
trazia cortadores de cana do Mato Grosso do Sul para o Agreste de Pernambuco.
Fiz uma reflexão sobre o que aconteceu. Eu não culpei muito a carreta, não
culpei muito o ônibus. Eu acho que a responsabilidade maior não é lá, é cá. A
responsabilidade é nossa, da nossa comunidade do Semiárido, que acha normal a
pessoa nascer no Agreste e encontrar oportunidade de trabalho não no Agreste,
não no Sertão de Pernambuco, mas lá em Mato Grosso do Sul, a milhares de
quilômetros de distância da sua casa, do seu povo, da sua gente. Eu acho que a
gente não pode tolerar mais isso. Isso é algo muito perverso contra a nação do
Semiárido.
Então, vejamos o seguinte: por que
aconteceu isso? Porque a oportunidade de sustentabilidade deles não estava aqui,
estava lá no Mato Grosso. Aí, eles abandonaram a mulher, os filhos, os pais, as
mães, a sua casa, a sua comunidade para ir ganhar o pão lá no Mato Grosso. E por
que é que eles não ganham o pão aí no Agreste? Por que não ganham o pão às
margens do São Francisco? A gente tem que fazer essas perguntas e tem que
responsabilizar alguém. As coisas para o nosso lado não estão nem tão
abandonadas. Os projetos existem, os projetos do São Francisco, para se
transformarem numa barreira nessa passagem de gente para o Sul, estão
concluídos. Concluídos estão o projeto Salitre, aqui na Bahia; concluído está o
projeto Pontal; concluído está o Canal do Sertão; concluído está o projeto
Baixio do Irecê; mas, esses projetos se fossem concluídos, porque já foram
começados, essas pessoas não estavam mais no Mato Grosso.
O que é que houve? Omissão de governo. Os
governos estão omissos diante da nossa realidade, da nossa necessidade. Como os
governos passaram 9 anos abandonando os projetos de irrigação, os nossos
patrícios foram lá para o Mato Grosso, lá longe, e correndo esses riscos, porque
como diz o grande pensador brasileiro: “Viver é arriscado”, então, eles correram
esse risco e sofreram esse desastre.
Outro fator que
concorre para que haja essa emigração lá para o Sul são os juros errados que
ocorrem aqui no Semiárido. Se os juros fossem adequados à nossa realidade, os
empresários fariam investimentos e os pequenos proprietários tomariam dinheiro e
iriam trabalhar. Como os juros são errados, são extremamente errados, o que é
que acontece? Não tem investimento e o pequeno proprietário também não tem
sobrevivência da sua terra. Aqui em Petrolina agora, o pequeno está todo na
Justiça, todos que não tiveram condições de pagar, o Banco colocou na Justiça
para tomar a terra deles. Essas coisas, nós não podemos tolerar mais não. Isso
são coisas dos séculos passados. O século agora tem que ser um século de mais
justiça, de mais equilíbrio, mais sensatez e mais equidade. Nesse momento, a
gente tem que exigir maior dignidade de vida. Então, tem alguém mais responsável
pelo que aconteceu: a omissão dos governos. Se vocês perguntarem: “O senhor está
falando e o que fez?” Eu fiz os projetos. Essa geração que terminou o poder fez
os projetos. A geração que está aí tem o dever de dar continuidade, mas ela não
dá continuidade às obras dos antecessores e isso é uma coisa muito reprovada.
Por Osvaldo Coelho
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