segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Artigo enviado por ASCOM OSVALDO COELHO

Omissão lamentável

Tenho que lamentar com vocês todos o ocorrido com o ônibus que trazia cortadores de cana do Mato Grosso do Sul para o Agreste de Pernambuco. Fiz uma reflexão sobre o que aconteceu. Eu não culpei muito a carreta, não culpei muito o ônibus. Eu acho que a responsabilidade maior não é lá, é cá. A responsabilidade é nossa, da nossa comunidade do Semiárido, que acha normal a pessoa nascer no Agreste e encontrar oportunidade de trabalho não no Agreste, não no Sertão de Pernambuco, mas lá em Mato Grosso do Sul, a milhares de quilômetros de distância da sua casa, do seu povo, da sua gente. Eu acho que a gente não pode tolerar mais isso. Isso é algo muito perverso contra a nação do Semiárido.

Então, vejamos o seguinte: por que aconteceu isso? Porque a oportunidade de sustentabilidade deles não estava aqui, estava lá no Mato Grosso. Aí, eles abandonaram a mulher, os filhos, os pais, as mães, a sua casa, a sua comunidade para ir ganhar o pão lá no Mato Grosso. E por que é que eles não ganham o pão aí no Agreste? Por que não ganham o pão às margens do São Francisco? A gente tem que fazer essas perguntas e tem que responsabilizar alguém. As coisas para o nosso lado não estão nem tão abandonadas. Os projetos existem, os projetos do São Francisco, para se transformarem numa barreira nessa passagem de gente para o Sul, estão concluídos. Concluídos estão o projeto Salitre, aqui na Bahia; concluído está o projeto Pontal; concluído está o Canal do Sertão; concluído está o projeto Baixio do Irecê; mas, esses projetos se fossem concluídos, porque já foram começados, essas pessoas não estavam mais no Mato Grosso.

O que é que houve? Omissão de governo. Os governos estão omissos diante da nossa realidade, da nossa necessidade. Como os governos passaram 9 anos abandonando os projetos de irrigação, os nossos patrícios foram lá para o Mato Grosso, lá longe, e correndo esses riscos, porque como diz o grande pensador brasileiro: “Viver é arriscado”, então, eles correram esse risco e sofreram esse desastre.

Outro fator que concorre para que haja essa emigração lá para o Sul são os juros errados que ocorrem aqui no Semiárido. Se os juros fossem adequados à nossa realidade, os empresários fariam investimentos e os pequenos proprietários tomariam dinheiro e iriam trabalhar. Como os juros são errados, são extremamente errados, o que é que acontece? Não tem investimento e o pequeno proprietário também não tem sobrevivência da sua terra. Aqui em Petrolina agora, o pequeno está todo na Justiça, todos que não tiveram condições de pagar, o Banco colocou na Justiça para tomar a terra deles. Essas coisas, nós não podemos tolerar mais não. Isso são coisas dos séculos passados. O século agora tem que ser um século de mais justiça, de mais equilíbrio, mais sensatez e mais equidade. Nesse momento, a gente tem que exigir maior dignidade de vida. Então, tem alguém mais responsável pelo que aconteceu: a omissão dos governos. Se vocês perguntarem: “O senhor está falando e o que fez?” Eu fiz os projetos. Essa geração que terminou o poder fez os projetos. A geração que está aí tem o dever de dar continuidade, mas ela não dá continuidade às obras dos antecessores e isso é uma coisa muito reprovada.
Por Osvaldo Coelho

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