quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

De igual para igual

Empresas e governos precisam modernizar a gestão e investir em inovação para os produtos brasileiros ganharem competitividade.

Criar um ambiente propício para o desenvolvimento das empresas brasileiras tem sido o desafio do Movimento Brasil Competitivo (MBC) desde sua criação, em 2001. A proposta inclui não só a modernização da gestão de empresas, especialmente de micro e pequenos negócios, como também o estímulo e a difusão de práticas que aumentem a eficiência do poder público.
Às vésperas de completar uma década de atuação, o movimento comemora resultados bastante positivos. Na área empresarial, o Prêmio de Competitividade para Micro e Pequenas Empresas (MPE Brasil), criado em 2004 em parceria com o Sebrae, Fundação Nacional da Qualidade e Gerdau, bate recordes de participação a cada ano. Em 2009 foram 57 mil inscritos; em 2010, 86 mil.
Na área pública, o Programa de Modernização da Gestão Pública (PMGP), criado em 2005, já conseguiu ganhos de R$ 13 bilhões em redução de despesa e aumento de receita. “Estamos começando a entrar no jogo do ganha-ganha, onde os governos conseguem melhorar questões de infraestrutura, saúde e segurança, ajudando a gerar um ambiente de negócios mais competitivo para as empresas”, afirma Erik Camarano, presidente do MBC.
À frente da organização desde abril deste ano, Camarano destaca na entrevista a seguir quais as principais conquistas e os maiores desafios do Brasil para aumentar a competitividade nacional.
O Brasil em comparação a outros países é pouco competitivo? Quais os principais fatores que afetam a competitividade nacional?
Erik Camarano –
Recentemente, o Movimento Brasil Competitivo divulgou, em parceria com o Fórum Econômico Mundial, o Relatório Global de Competitividade, um documento que traz informações importantes para orientar nossa agenda de desenvolvimento do País. Embora a manchete na imprensa tenha sido a perda de posição no ranking – saímos de 56º para 58º, numa lista de 139 países –, a verdade é que temos tido uma melhoria constante nos últimos cinco anos nos 12 critérios avaliados pelo Fórum. Quando analisamos os fatores-chave para esse processo, fica claro que temos características muito positivas puxando nossa nota de competitividade para cima. Dentre elas, o tamanho do mercado interno brasileiro – o 10º maior mercado mundial – e a nossa capacidade de inovação, especialmente na área empresarial.
E quais os fatores que ainda nos puxam para baixo?
Camarano –
Quando a gente observa fatores mais críticos, que podem se constituir em eventuais gargalos ao crescimento, percebemos que eles estão concentrados em três ou quatro grandes blocos. E o primeiro deles é a infraestrutura. Nos últimos anos tivemos modernização significativa em áreas como energia e telecomunicações, mas a parte de transporte, por exemplo, deixa muito a desejar. O relatório do Fórum Econômico Mundial aponta uma necessidade de investimento da ordem de 5% do PIB em infraestrutura de transporte. É o que precisamos para evitar que o problema se torne um gargalo ao nosso desenvolvimento.
O nível de investimento público e privado ainda é muito abaixo desse índice?
Camarano –
Hoje estamos investindo só metade disso, 2,5% do PIB, somando recursos públicos e privados. Obviamente que não podemos resolver o problema só com dinheiro público. É preciso uma combinação de investimentos para que possamos garantir que a boa fase da economia não seja só de curto prazo.
Pesquisas mostram que os empresários brasileiros reconhecem a importância da inovação para aumentar a competitividade. Mas na prática eles investem muito pouco nessa área – média de 0,6% do faturamento. Como mudar essa situação?
Camarano –
O que precisamos levar em consideração é que temos um perfil de país um pouco diferente de outras economias do ponto de vista de investimentos privados em inovação. No relatório elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, por exemplo, a capacitação de funcionários aparece como um fator positivo, que diferencia o Brasil de outras nações. Na verdade, a nossa leitura é de que esse investimento significativo em qualificação da mão de obra é mais uma forma de suprir uma lacuna do sistema educacional do que um diferencial das empresas brasileiras. Ou seja, estamos sendo forçados a direcionar mais recursos para resolver deficiências de formação dos trabalhadores, enquanto poderíamos estar investindo esses mesmos recursos em pesquisa e desenvolvimento. Minha impressão é de que essas duas coisas estão combinadas.
A questão educacional já atingiu um nível de gargalo, ou seja, estamos com um problema sério de competitividade por conta disso?
Camarano –
O fato é que o Brasil passou por um desafio muito grande, que foi fazer a inclusão de estudantes. Se olharmos estatísticas de 20 anos atrás, tínhamos muitas crianças fora da escola, alta taxa de analfabetismo e um número baixíssimo de escolaridade média. Em função disso, foi necessário fazer um esforço de inclusão e conseguimos isso com muito sucesso. Mas agora temos que entrar numa segunda etapa, que é de qualificação de ensino. Essa prerrogativa, inclusive, está no Relatório Mundial de Competitividade. Quando analisamos as provas internacionais de avaliação de desempenho estudantil, vemos que o brasileiro ainda apresenta um resultado muito fraco.
Como mudar isso? Já estamos mudando?
Camarano –
Na nossa leitura, só conseguiremos mudar isso com três iniciativas: investimento na formação dos professores, melhoria da gestão escolar com foco em resultados – medidos principalmente pelo desempenho estudantil – e avaliação externa dos resultados. Esse é um desafio que nós começaremos a viver agora. Uma coisa interessante, abordada pelo Relatório Mundial de Competitividade, é que temos bom desempenho nas avaliações do ensino superior. Isso é resultado de uma estratégia importante na década de 1970, mas sabemos por estudiosos do assunto que a variável com maior impacto no crescimento econômico sustentável de um país é o ensino fundamental. Por isso, hoje precisamos correr atrás para melhorar o ensino básico.
As pequenas empresas são mais afetadas pelos fatores que comprometem a competitividade nacional?
Camarano –
Desde 2004 o MBC realiza o Prêmio de Competitividade para Micro e Pequenas Empresas, o MPE Brasil. O que observamos é que existe um processo de conscientização dessas empresas de que ferramentas de gestão não são exclusividade nem privilégio de grandes negócios. Neste ano, por exemplo, 86 mil empresas de todo o Brasil se inscreveram no prêmio para mostrar suas práticas. Isso é muito importante à medida que ainda temos estatísticas ruins de curto tempo de vida das micro e pequenas empresas – cerca de três a quatro anos. Precisamos apoiá-las com conceitos básicos de gestão para garantir que elas possam gerar emprego e renda de forma permanente.
O que fazer para que esses conceitos que o senhor se refere também cheguem à gestão pública?
Camarano –
Estamos fazendo um esforço combinado, trabalhamos na gestão privada e na gestão pública. Na gestão privada, nosso diagnóstico é de que as empresas médias e grandes já trabalham com processos bastante avançados. São empreendimentos que estão crescendo e se expandindo para fora do País, portanto, estão abertas à competição internacional. Isso fez com que, nos últimos 20 anos, elas buscassem capacitação e instrumentos para modernizar sua gestão. Hoje temos até empresas que exportam um estilo de gestão brasileito, como AmBev, Gerdau e Odebrecht. Então, percebemos que precisávamos reproduzir esse modelo nos negócios menores. E, junto com isso, desenhamos em 2005 um Programa de Modernização da Gestão Pública (PMGP). Ele nasceu da constatação de que o empresário fazia um esforço muito grande para aumentar sua competitividade da porta da fábrica para dentro, mas quando o caminhão saía do pátio começavam os problemas: custo alto do frete, segurança pública precária. Ou seja, identificamos que era preciso modernizar a gestão pública para liberar mais recursos para investimentos em áreas como infraestrutura e segurança.
Quais os resultados do programa?
Camarano –
Já trabalhamos em mais de dez governos estaduais e várias prefeituras de todo o Brasil e, de 2005 a maio de 2010, computamos R$ 13,3 milhões de ganhos com aumento de receita e diminuição de despesas. O que fizemos foi capacitar servidores para que eles aprendessem um conjunto de ferramentas de gestão que permite que o setor público faça mais com a mesma carga de impostos recolhidos. Estamos começando a entrar no jogo do ganha-ganha, onde os governos conseguem melhorar questões de infraestrutura, saúde e segurança, ajudando a gerar um ambiente de negócios muito mais competitivo para as empresas. Isso aconteceu, por exemplo, em Pernambuco, onde a taxa de criminalidade diminuiu significativamente, e no Rio de Janeiro, com a melhoria na área de saúde, incluindo entrega fracionada de remédios. Estamos convencidos de que essa é uma mudança de cultura que veio para ficar. Nas eleições, governadores de estados onde o programa foi realizado foram reeleitos no primeiro turno ou fizeram seus sucessores. Isso mostra que gestão por resultados dá votos.
O senhor está otimista com relação ao futuro da gestão pública?
Camarano –
Pode-se dizer que o Brasil está vivendo na área da gestão pública uma revolução silenciosa. É silenciosa porque ainda estamos enxergando só a ponta do iceberg. Começamos o programa no Poder Executivo, mas esse mesmo movimento já está acontecendo na área do Judiciário. Primeiro fizemos um projeto piloto no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul e hoje já iniciamos um processo dentro do Conselho Nacional de Justiça para modernização da gestão de todos os tribunais nos estados. É um momento positivo que, temos certeza, não é temporário.
Contato:
Movimento Brasil Competitivo: (61) 3329-2102

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