sábado, 19 de fevereiro de 2011

O estreitamento do diálogo político entre o Brasil e os Estados Unidos

Chanceler Antonio Patriota foi entrevistado nesta sexta-feira no programa Bom Dia, Ministro. Foto: Elza Fiúza/ABr
A expectativa da visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil, prevista para os dias 19 e 20 de março, é vista como “muito positiva”, segundo disse o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, durante entrevista ao programa “Bom Dia Ministro”, nesta sexta-feira (18/2), em rede nacional de emissoras de rádio. Conforme assinalou o chanceler, na visita deverão ser discutidos assuntos de ordem econômica, comercial, além do estreitamento do diálogo político entre os dois países. Patriota destacou que “os Estados Unidos são um país com o qual temos uma tradição de bom relacionamento, além de ser o segundo parceiro comercial individual do Brasil”. Entre os temas de maior interesse, Patriota cita a área de cooperação em ciência e tecnologia, no momento em que o Brasil procura desenvolver sua produtividade industrial e competitividade. 

Além da discussão de todos esses pontos, o encontro deve dar uma conotação de tratar-se de uma visita de reafirmação da amizade entre os povos norte-americano e brasileiro. “O Brasil é o país com o maior número de afrodescendentes fora da África, e não pode deixar de nos sensibilizar a presença do presidente Obama no Brasil,” disse na entrevista.

Com relação aos biocombustíveis, o chanceler explicou que já existe uma agenda positiva com os Estados Unidos que beneficia terceiros países. Já sobre a tarifa imposta pelo Congresso norte-americano ao etanol brasileiro, o ministro explicou que isso tem penalizado as exportações brasileiras, e não há perspectiva de eliminação, a curto prazo, porque envolve interesses regionais específicos. Não é algo que dependa do presidente Obama, explicou ele: a dinâmica da política interna norte-americana impede que isso aconteça.
“Além dos Estados Unidos, a presidenta Dilma também havia manifestado interesse em manter contato com a China – país que visitará em abril deste ano – em função desses dois países serem os principais parceiros comerciais do Brasil”, esclareceu Patriota na entrevista.
Ele lembrou, porém, que a prioridade da presidenta é a América do Sul. 
Segundo o ministro, a relação com a China é cada vez mais importante para o Brasil, já que é a primeira parceira comercial. Embora existam aspectos no relacionamento que mereçam ser examinados, disse ele, não podemos esquecer que estamos tendo um superávit bem robusto com a China, que em 2010 foi de US$ 5,2 bilhões. Em sua avaliação, o relacionamento entre Brasil e China é um relacionamento intenso, complexo, mas que pode ser mutuamente benéfico.
“É nesse espírito que a presidenta Dilma Rousseff deverá viajar até Pequim, e encontrar um equilíbrio que seja o melhor possível para os dois países.”
Questionado especificamente sobre a questão da concorrência chinesa e sua mão de obra barata, Patriota afirmou que isso pode causar um desconforto, especialmente nos setores de brinquedos e calçadista brasileiro. Mas, segundo explicou, o Brasil também emerge em setores específicos, em que desloca outros produtores.
“De modo que é um jogo em que temos que nos preparar, temos que cuidar da competitividade da indústria nacional Esse é um tema que está na agenda do governo. Não é só através da proteção que nós conseguiremos superar essas dificuldades. Na verdade, a proteção geralmente desencadeia proteção do outro lado também, e aí nós ficamos em uma situação que é negativa para todo mundo. Eu acredito que o Brasil tem condições de se afirmar em inúmeros setores, inclusive no calçadista.”
Durante a visita à China, também está previsto um encontro com os BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China, e agora também a África do Sul). Segundo Patriota, os chineses organizarão nos dias 14 e 15 de abril eventos com esse grupo, o que na avaliação do ministro será um encontro muito proveitoso e interessante para a coordenação de uma série de assuntos, inclusive os relacionados ao G-20.
A retomada das negociações da rodada de Doha também foi abordada pelo ministro. Segundo ele, o Brasil está disposto a retomar a negociação, que prevê redução de tarifas e uma série de outras medidas no campo comercial, que podem beneficiar muito os países em desenvolvimento, como os africanos, por exemplo. Mas ele não considera razoável que se faça concessões adicionais.
“O que não consideramos razoável é que países desenvolvidos, entre eles os Estados Unidos, em particular, exijam uma contraparte adicional àquela que estava sendo prevista em 2008, especialmente depois de uma crise econômica que foi deflagrada em consequência de atitudes tomadas no Norte, não foi o Brasil que provocou essa crise econômica. Na verdade, foram os países emergentes que mais ajudaram a retomada da economia mundial. De modo que já estamos dando uma contribuição muito importante.”
Patriota reafirmou, durante no programa “Bom Dia Ministro”, que a questão dos direitos humanos é fundamental para o Brasil, um país que atribui grande importância às liberdades civis, políticas, à liberdade de expressão, e que tem trabalhado muito pela redução da desigualdade e da pobreza. Segundo ele, um país adquire mais autoridade no cenário internacional para falar de direitos humanos quando ele faz o seu dever de casa e quando procura melhorar a situação internamente.
O chanceler também reafirmou que o Brasil defenderá sempre uma abordagem equilibrada e justa do assunto, desde que isso não se transforme em uma agenda de cunho político. Questionado especificamente sobre o Oriente Médio, o ministro declarou: “eu não acho que o Oriente Médio seja necessariamente uma região prioritária para se falar de direitos humanos. Todos os países do mundo podem melhorar a sua situação em matéria de direitos humanos, independente do grau de desenvolvimento.
A respeito da relação do Brasil com o Irã, o ministro esclareceu que o que houve não foi uma aproximação com o governo do Irã, mas um esforço para contribuir para a criação de confiança entre países como os Estados Unidos e o Irã, e contribuir para que houvesse uma solução diplomática para a questão, que é uma das mais complicadas da agenda internacional.
“Consideramos que é interessante manter um diálogo com o governo iraniano, até mesmo para diminuir as tensões, porque o isolamento às vezes só exacerba o que já é uma situação preocupante e que pode levar a um conflito.”
Patriota afirmou que não identifica problema no relacionamento diplomático entre Brasil e Itália, em função da situação de Cesare Battisti. Segundo o ministro, trata-se de uma situação que se encontra agora no contexto do Judiciário, e que seguirá seu curso no Judiciário.


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